quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Voltando à terra natal

Em 2016, Francisco Melo volta, depois de dez anos, a Teresina(PI) e, relembra fatos do passado.
      Igreja de São Benedito- Melo para os amigos, trabalhou na restauração da igreja, quando ainda jovem.
                     cine Rex
 A Praça D. Pedro II,  abriga o Theatro 4 de Setembro e o lendário Cine Rex, além da Central de Artesanato Mestre Dezinho.

        Na  Praça D. PedroII  , quando criança,  rabiscou seus desenhos no muro, o que ele não sabia era que se tratava do quartel da Policia. De lá desceu um oficial com um balde na mão e ordenou que limpasse o local.









                                       A igrejinha onde costumava bater bola com os amigos.




            A esquina onde  foi sua casa.

                                 O  Terminal rodoviario



                        A busca por uma pista que possa resgatar a memória


                           Teatro 4 de Setembro



            caminhando pelas ruas de Teresina-bairro da Piçarra


Terezinha, Mariinha(falecida) Melo e Raimundinha
Mariinha (falecida)  única irmã que ficou no Piaui enquanto todos da família foram morar em Belém.



UMA HOMENAGEM PRA LÁ DE ESPECIAL

ZION CAFÉ BISTRÔ, fez uma justa homenagem ao artista plástico 
Francisco Melo














                  musica Eneida Melo, percussão Lua, violão George Paez




                                                foto: Socorro





                                         











quinta-feira, 16 de novembro de 2017



Resgatando as lembranças


                 A crise de 1929 afetou  o Brasil. Os Estados Unidos eram o maior comprador do café brasileiro. Com a crise, a exportação deste produto diminuiu muito e o preço do café brasileiro caiu. Para que não houvesse uma desvalorização excessiva, o governo brasileiro comprou e queimou toneladas de café. Desta forma, com a diminuição da oferta, foi possível manter o preço do principal produto brasileiro da época. Por outro lado, a crise de 1929, trouxe algo positivo para a economia brasileira. Muitos cafeicultores começaram a investir no setor industrial, incentivando a industrialização no Brasil.



É nesse cenário de crise na economia do Brasil que nasce  em Três Paus, interior do Piaui,  Francisco Melo (chamado de Dai carinhosamente pelos irmãos). Filho de José Pereira de Melo e dona Raimunda Soares de Melo, passou a infância toda na roça, hoje, são  fortes as lembranças que povoam sua memória.



                                                        Francisco Melo(Dai)-década de 50



                         Os irmãos Melo da esquerda para a direita  Antônio, Francisco(Dai), Manoel(Neca) e Genoíno
                                                               
                                       
As lembranças  lhe vem a memória e remontam a época de criança. Levantava cedo para ir à capoeira montado num jumento.“ juntar" animal e madeira. Era uma família de dez irmãos, Francisco (Dai) era o irmão  mais velho dos homens, Genoíno, Antônio, Manoel (Neca) e Cícero e  as irmãs Mariinha, Terezinha, Ivone, Raimundinha e Ana.
Francisco levantava ás  5 horas da manhã para ir á escola, "eu lembro da mamãe assando duas ou três espigas de milho, era o lanche da escola".



Em 1942,  mudou-se com a família para a cidade de Teresina (PI), o pai havia trocado a casa da roça por um barraco na cidade.

                         "Lembro bem, éramos agregados na fazenda de um professor, lembro-me da primeira roça do papai. Lembro-me da primeira melancia que comemos quase morro afogado com um pedaço. No ano de 1942 mudamos para Teresina, o papai trabalhava com carroça, fazia frete, antes trabalhou no comércio, mas houve uma enchente e perdeu tudo. Na cidade, começamos a frequentar a Escola Domingos Jorge Velho, hoje o local abriga o Memorial Zumbi dos Palmares. Comecei a trabalhar e,  com pouco estudo logo casei com uma moça e tivemos dois filhos um menino, que faleceu de susto causado por um raio, e depois uma menina Rosângela. Esse  casamento durou 4 anos". 

Francisco Melo ainda teve um outro relacionamento no Piauí que nasceu a  segunda filha chamada Ângela.

                                        



 Rosangela Melo aos 6 anos



                      Francisco Melo e sua segunda filha Ângela Melo aos 15 anos



A Guerra

                         O 25º Batalhão de Caçadores foi o palco principal das operações militares em Teresina, juntamente com o QCG da Polícia Militar, à época situado nas imediações da Praça D.Pedro II. A intensa propaganda de guerra comandada pelos Aliados afetou os teresinenses de tal maneira que participar dos combates passou a ser uma questão de honra, principalmente após a criação da FEB (Força Expedicionária Brasileira).
                     O litoral piauiense era bastante visado pelos submarinos alemães. Os estrategistas de Hitler viam na região o local adequado como esconderijo após os ataques às embarcações brasileiras nas costas nordestinas. A infinidade de pequenas ilhas e a entrada do rio Parnaíba eram tidas como favoráveis para a estratégia. (www.180graus.com).

"A guerra de 1942 a 1945 mexeu com todos nós. Acompanhei o naufrágio do navio e pude ver soldados correndo fugindo da guerra”.

                                                  Pracinha (década de 40)


                             " Jovens  Pracinha como eram chamado os combatentes.


Em Teresina, a família Melo morou na única rua principal em uma casa de palha. “Havia rumores que um delegado por nome Vila Nova provocava incêndio nas casas.”

Aos 18 anos Francisco Melo embarca num trem para o Maranhão, e, dormi numa pensão, depois arranja uma passagem num cargueiro e viaja no porão rumo ao Estado do Pará. Ao chegar em Belém, por não ter onde morar passa a noite na rua "perambulando". E, amanhece na porta de uma igreja.

                "  Nordestino tem espirito nômade, ao 18 anos caí fora. Naquela época sem trabalho, sem lugar para morar em Belém, procurava ficar em locais com muita gente, assim frequentava o Ver-o-Peso. Observando o comércio, tive a intuição de fazer alguma coisa para  adquirir uma renda. Tinha uma pecinha de elástico dentro da mala e, acredita que vendi?, assim ganhei uns trocadinhos,  fui numa casa de alumínio e comprei copos de alumínio. E assim fui, vendia peça de elástico, grampo para cabelo. No copo de alumínio  passei a gravar nomes (pura intuição), a ferramenta era um aro de guarda-chuva. Lembro-me de quando criança( lá em Teresina) saía com um carvão na mão riscando o chão. Um dia eu parei enfrente a  uma praça e comecei a risca o muro. Era bem enfrente ao Batalhão da Polícia, e de lá desceu um oficial  que trouxe um balde  me fez limpar tudo(rsrsr). Trabalhei em olaria, fazendo tijolo, telha, atividades de construção nisso peguei habilidade com as mãos e era fácil gravar em copos de alumínio , fazer boneco de barro para mim   tudo era fácil."






Em Belém, Francisco Melo  dedica-se as artes,  conhece muitos pintores, artistas plásticos como Ruy Meira, Benedito Melo, Leônidas Montes, Paulo Ulisses, que o influenciam na carreira artística. Nas artes terá  sua grande chance de participar no 2º Salão de Artes Plásticas da Amazônia, sendo premiado com um convite para participar da Bienal de São Paulo.





Salão de Belas Artes da Universidade

   Os Salões de Belas Artes da Universidade do Pará, realizados nos anos de 1963 e 1965, se destacaram por seu caráter de vanguarda, não só por terem sido concebidos, nas palavras de Silveira Neto, como “(...) mostras de arte com dimensões regionais, [onde] participam artistas de toda a Amazônia, [...] cumprindo uma alta finalidade pedagógica, contribuindo não só para renovar, dignificar e atualizar o trabalho artístico, como também para despertar a consciência e a capacidade de nosso povo”. Os espaços transformaram-se assim em centros de reunião de artistas e intercâmbio de ideias, estimulados pela realização de mesas-redondas, conferências, cursos e oficinas. Dentro dessa nova política e como programação paralela ao I Salão, realizou-se em 1963 um curso com a gravadora Edith Behring, ex-professora de Ruy Meira no Rio de Janeiro, e uma exposição da artista Hilda Campofiorito.
                                                                             (Meira, pág. 119)



"A minha preparação foi ver esses artístas trabalhando”


 Francisco Melo,   precisou trabalhar como "marreteiro" vendendo pente, escova e outras coisinhas mais, para o sustento de sua família,   até se tornar  comerciante  com um pequeno empreendimento na rua 13 de maio, bairro Centro em Belém(PA).
Antes de sua pequena atividade de venda era a pintura sua habilidade mais marcante, a facilidade em desenhar letras lhe possibilitava uma renda complementar.


    Casa Chama na Castilho França(1953)



É em Belém, que conhece sua segunda esposa, Eunice Correa de Almeida, " havia uma moça bonita que sempre passava perto do local onde eu trabalhava. Numa dessa vezes lhe dei de  presente um boneco de barro feito especialmente para ela".  Desse instante começaria um romance que daria muitos frutos.

década de 50


   Dessa união nasce sua terceira filha e deram-lhe o nome de Marlinda.






para logo em seguida a família aumentar, dizia como um  bom nordestino: "onde come um come dez".
                                                      Marlinda, Marcia e Marilene
                                            Marlinda, Marcia, Marilene e Ana Cristina
                                      Rosângela, Ângela(filhas do primeiro casamento)
                                        Marlinda, Marcia, Marilene e Ana Cristina 


As diversas obras e exposições em Belém, nas praças públicas continuaram. A participação do Grupo do Utinga foi uma experiência marcante na década de 60.


                               Grupo do Utinga, 1944 / A Arte do fazer - Maria Angélica de Meira (2008)

Como uma prática muito comum na Belém dos anos de 1940, alguns artistas passaram a experimentar ao ar livre seus exercícios de pintura e, reunindo-se regularmente, de cavalete em punho, buscavam locais pitorescos da cidade de Belém à procura de inspiração para seus quadros. Em suas peregrinações artísticas, passaram a frequentar as aprazíveis matas do Utinga, o que mais tarde lhes atribuiria a denominação informal de “Grupo do Utinga”
Preferencialmente nas manhãs domingueiras e em seu velho caminhão, Meira percorria a cidade e, de casa em casa, recolhia os amigos que munidos de cavaletes, pincéis e tintas se dirigiam aos arredores da cidade, em busca de locais agradáveis para suas atividades artísticas.
Não se tem registro exato sobre o ano em que a prática de “pintar a cidade”  iniciou-se entre os artistas do Grupo do Utinga. O certo é que, em imagens fotográficas realizadas no ano de 1944 o núcleo inicial do Grupo do Utinga era constituído pelos artistas Ruy Meira, João Pinto, Benedicto Mello, Joaquim Pinto, Arthur Frazão e Oswaldo Pinho.(A Arte do fazer: o artista Ruy Meira e as artes plásticas no Pará dos anos 1940 a 1980 - Maria Angélica de Meira (2008)





                          Participou de eventos, e exposições na Galeria Angelus em Belém do Pará


      Salão de Arte década de 60




                               Mas ainda vieram para o casal Francisco e Eunice mais 4 filhas : Rosilene,Eneida Lucila e Michele.







Rosilene Melo nasceu em 1964, 



Lucila Melo(1965)
Eneida Melo(1970)


                      E  a caçula das filhas de Eunice, Micheline Melo (1975)

                                          A VIDA EM ALTAMIRA

Na década de 70, Francisco Melo muda-se para Altamira, para trabalhar no comércio no ramo de bijuterias.

Altamira só tinha uma rua,  uma igreja, mangueiras, era uma cidade romântica, fresca neblina. Na rua , as pessoas vendendo tatu, paca, peixes no anzol. Nessa época falava-se muito na Transamazônica.  Haviam poucos colégios , e quase não se tinha estímulo para trabalhar artes. Fui o primeiro a trabalhar esse tema na cidade. Hoje sou referência para o setor educacional. A população ainda era pequena, uma mistura de índios, caboclos, negros."

                                               Altamira década de 70


                                                     Igarapé Altamira



                                                 Indios Xipaias


  Embarcações à vela (década de 70)

  Os Pescadores (1970)





 Quebrando castanha(década de 70)




Em Altamira desenvolve vários trabalhos, tendo diversas obras de relevância em alguns pontos da cidade dentre ela Monumento ao Serigueiro, Monumento ao Operário. Além de trabalhar no comércio (hoje aposentado), seu grande hobby e prazer sempre foi  o desenho e a pintura.




Em um momento de criação


Hoje, Francisco Melo vive com sua família em Altamira, sua atual esposa Maria do Carmo e seus quatros filhos Maurício, Marlon, Marcelo e Marília.  Aposentado , dedica-se somente as artes.








Murilo(neto) e Mauricio (filho)


Marilia Melo


Marlon e Mauricio


Marcelo Melo










Dia 17 de Fevereiro de 2018 Francisco Melo recebeu uma homenagem de seus admiradores



 



Francisco Melo teve a felicidade de conhecer dois filhos Jerferson, que mora em Brasilia e Elizete (Manaus) pessoas muito queridas na família.
Atualmente Francisco Melo esta com 93 anos vive ainda em Altamira com sua familia, netos e bisnetos.